A Condição Humana. A natureza, as artes, as mulheres e também...os homens.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Redenção

Vozes do mar, das árvores, do vento!Quando às vezes, n'um sonho doloroso.Me embala o vosso canto poderoso,Eu julgo igual ao meu o vosso tormento...
Verbo crepuscular e íntimo alentoDas cousas mudas; salmo misterioso;Não serás tu, queixume vaporoso,O suspiro do mundo e o seu lamento?
Um espírito habita a imensidade:Uma ânsia cruel de liberdadeAgita e abala as formas fugitivas
Eu eu compreendo a vossa língua estranha,Vozes do mar, da selva, da montanha,Almas irmãs da minha, almas cativas!
IINão choreis, ventos, árvores e mares,Coro antigo de vozes rumorosas,Das vozes primitivas, dolorosasComo um pranto de larvas tumulares...
Da sombra das visões crepuscularesRompendo, um dia, surgireis radiosasD'esse sonho e essas ânsias afrontosas,Que exprimem vossas queixas singulares...
Almas no limbo ainda da existência,Acordareis um dia na Consciência,E pairando, já puro pensamento,
Vereis as Formas, filhas da Ilusão,Cair desfeitas, como um sonho vão...E acabará por fim vosso tormento.
Antero de Quental in "Sonetos"

Sem comentários:

Enviar um comentário