A Condição Humana. A natureza, as artes, as mulheres e também...os homens.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mar


Se me Perco no teu azul mais do que profundo?
E se no líquido das tuas vagas mergulho a minha loucura?
Só para encontrar o oxigénio nos teus lábios…e a sua essência? Procuro-a…
Quando estive em Porto Santo fiquei encantada com este azul do mar, como boa portuguesa nunca lhe fico indiferente. E neste cais um grupo de miúdos acabou por merecer o meu olhar atento. Os catraios mergulhavam com violência para este mar calmo, não percebi se porque sentiam saudades da agitação das ondas se confiavam excessivamente na sua aparente calma. Um deles acabaria de sair da água a sangrar do nariz, mas isso não foi impedimento para continuar a mergulhar. E pensei mais uma vez para comigo: é no absurdo que encontramos o sentido quotidiano da nossa humanidade até porque as lutas estóicas perderam valor.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Qual contrato social, qual carapuça…

"Duel avec gourdins" Goya. Museu do Prado.

 
Quanto mais conheço a Sociologia mais seduzida me sinto pela Filosofia.
Há uns anitos li pela primeira vez Michel Serres, “O Terceiro Instruído”, que me introduziu ao conceito de mestiçagem, que são as zonas de intercepção que produzem conhecimento útil, o que escapa muitas vezes quer aos teóricos quer aos práticos e que poderemos considerar o que se produz no mundo da vida, do quotidiano, e que não se repercute no mundo dos sistemas. Este conceito aplicou-o ao processo de aprendizagem, na área da educação, ou melhor da instrução como prefere.
Mas o que seria um fantástico mundo novo para a ciência (a social também) depressa se dissipou, pois o autor afiança que neste campo encalhámos na era cartesiana. O que, quanto a mim, não retira o mérito a todas as disciplinas que seguiram outros caminhos.
 Entretanto para responder às minhas inquietações sobre estado natural e social li recentemente “O contrato natural”. Neste livro Serres propõe a evolução do contrato social para um contrato natural. Para Serres o elemento fundamental que devemos incluir neste contrato é o mundo natural, porque o que o contrato social fez foi instrumentalizar a própria natureza. Mas esta é, sobretudo, uma visão que vai por outro caminho - o terceiro, que nos convoca a integrar homem e natureza. Não se trata do social e do natural no mesmo contrato, mas da defesa de um ambientalismo perdido.
Uma das minhas dúvidas sobre a “solidariedade” do contrato social é precisamente a existência do seu contrário, ou melhor se este não nos terá tornado reféns uns dos outros e num mundo de fracos e fortes este é o melhor resultado que conseguimos alcançar. Desde a retórica artificial dos Direitos do Homem à barbárie, encontra-se de tudo um pouco. Num mundo onde diariamente morrem milhares de seres humanos de forma violenta outros milhares gozam de um nível de conforto bastante razoável. Enquanto os primeiros procuram a sobrevivência os segundos respondem com indiferença. Todos humanos, mas nas suas humanidades.
Mas qual contrato?
Agora sinto-me mais tentada do que nunca a acreditar que aquilo que move o contrato social é a mesmíssima ordem de razões que move o mundo (ou melhor parte dele): não queremos acabar uns com os outros, queremos a paz, mas o melhor é fabricar umas armas não vá o diabo tecê-las. Que mundo! Ou melhor que sociedade! Mas até quando vamos precisar deste contrato social? A resposta parece que é clara….até o diabo querer!
Ainda bem que alguém como Serres saiu da auto-estrada neste mundo cada vez mais “lateralizado”!
"O Objectivo da instrução é o fim da instrução, ou seja, a invenção. A invenção é o único acto intelectual verdadeiro, a única acção de inteligência. O resto? Cópia, disfarce, reprodução, preguiça, convenção, batalha, sonho. Apenas ela suscita a descoberta. Só a invenção demonstra que se pensa verdadeiramente aquilo que se pensa, qualquer que seja essa coisa. (...) O fôlego inventivo resulta somente da vida porque a vida inventa." (Serres, 1997)