A Condição Humana. A natureza, as artes, as mulheres e também...os homens.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Serenidade

Ontem choraste por coisas simples, pensei eu. No meu rosto reflectido no ecrã também vejo duas lágrimas simples, bem mais complexa é a dor que sinto dentro de mim. No outro dia disseste-me que no mundo dos adultos há tudo e no mundo das crianças não há nada, será que consegues perceber o vazio de uma desilusão. Ontem levei dois disfarces de princesa, mas tu não és uma menina qualquer, não és nem monárquica nem republicana, no mundo das crianças não há formas de governação perfeitas. Eu já devia saber que tu querias ser como o Jake, um pirata, talvez até um cowboy, tu projectas-te como um herói. Sonhas ser bombeiro ou polícia, lutar contra os vilões e a tirania. Na tua sala és sempre solidária e gostas de defender os mais fracos, porque me passou pela cabeça que quererias ser uma princesa? Para que serve uma princesa?
Talvez eu precise de ler a psicanálise dos contos de fadas, talvez precise ler, pensar e voltar a pensar. No mundo dos adultos aprendemos a racionalizar os nossos sentimentos, infelizmente nem sempre da melhor maneira. Ontem perguntei-te vezes sem fim porque choravas, tu nem me respondestes e continuaste a chorar até te passar a vontade. E hoje sou eu que quero chorar, tenho tanta vontade...mas isso só não chega, nem sequer assim consigo. E esta é talvez a maior diferença entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças, ainda não quero que a compreendas porque é muito cedo, só tens seis anos. Os adultos devem serenar as crianças e ontem não consegui acalmar-te e tu só conseguiste irritar-me, hoje foi alguém do mundo dos adultos que me irritou. Se no mundo dos adultos há tudo é porque esse mundo é confuso e só os verdadeiros adultos conseguem simplificar e não para complicar. E à medida que os anos passam conseguem alcançar uma das maiores virtudes, a serenidade! Então, já não querem ser nem heróis nem princesas, simplesmente lutam para ser!

É esta qualidade que me fascina nos que envelhecem e espero que um dia a aprendas comigo.