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terça-feira, 29 de março de 2011

Manifestem-se

Será que tudo o que ultimamente se tem dito sobre as sucessivas gerações que conduziram o país a esta crise ficará sem resposta?
Vejamos:
 A “Rasca” conheço bem, porque é a minha, mas com esta adjectivação, vá-se lá saber bem porquê, nem concordo ou melhor nunca concordei! Só porque três jovens decidiram mostrar “a bunda” ao Sr. Ministro da Educação, para assim manifestarem a sua indignação com a reforma educativa, ficámos todos condenados à mediocridade? Mas era uma geração que protestava nos sítios e nos momentos certos, apesar dos imponderados meios…
A geração que desenrasca merece mil louvores, sem ela o que seria de nós? Queridos pais, mães e até avós de todo o país a todos vós, um sentido e sonoro: OBRIGADA! A esta geração têm também apontado o dedo, foi injustamente responsabilizada quer pelos excessivos mimos aos filhos quer pelo “buraco” nas contas públicas. Mas esta é a mais sábia das gerações, a que responderá oportunamente.
Da geração à rasca pouco saberei dizer, com ela convivo diariamente e também com ela me poderia identificar. Não creio que esta seja a geração do umbigo que empunha singelas folhas A4 com as suas demandas individuais, nem a geração apática e passiva que “alguém” pôs à rasca. Mas estará esta geração à deriva, ou melhor, terá as competências necessárias para navegar à bolina?
A geração do desenrasca que é mais discreta, pois não protesta e nem sei se votará, é aquela que a cada nova década tem conseguido reinventar-se. Esta espécie é um subtipo que degenerou doutras e também da minha geração. Com esta(s) convivemos há muitos anos, mas sob a sua forma mais moderna tornou-se na geração que fareja o queijo e para lá chegar não olhará a meios o que resulta efectivamente não numa lógica geracional mas na existência de subtipos dentro de uma mesma geração, a partir do anunciado triunfo do individual sobre o colectivo. Inspirados no “Quem mexeu no meu queijo?” ou noutro best-seller americano qualquer, desde que possua a chave não só para a garantia de lucros como da própria felicidade (O que para eles são variáveis dependentes), TUDO farão para manter TUDO na mesma!
E nestes dias tão cinzentos, os dias do realismo puro, soube-me bem ler um pequeno manifesto “Indignai-vos” de Stéphane Hessel, pela maneira como pude rever alguns dos meus anseios e sobretudo encontrar caminhos, assim, é a esperança o que mais gostaria de ver partilhada pelas gerações. O que pode unir uma geração ou até várias é realmente a esperança num futuro melhor e no futuro possível que podemos construir de mãos dadas, usando a forma e os meios certos. Se hoje acreditamos na democracia então não nos deixemos enganar porque a música já foi uma arma, mas felizmente foi substituída já há alguns anos por outra mais poderosa: o voto! No entanto a música será sempre um bom meio de consciencialização.
Ficam as palavras de Hessel e dos veteranos do Conselho Nacional da Resistência Francesa, no 60º aniversário do seu Programa:
“E é por isso que continuamos a apelar a «uma verdadeira insurreição pacífica contra os meios de comunicação de massas que só apresentam como horizonte à nossa juventude uma sociedade de consumo, o desprezo pelos mais fracos e pela cultura, a amnésia generalizada e a competição renhida de todos contra todos.» A todos aqueles e aquelas que irão fazer o século XXI, dizemos com afecto: «CRIAR É RESISTIR. RESISTIR É CRIAR.»”

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