A Condição Humana. A natureza, as artes, as mulheres e também...os homens.

domingo, 17 de abril de 2011

O tempo

A senhora afastava-se em fato de banho ao longo da piscina e quando se encontrava a quatro ou cinco metros do professor de natação, virou a cabeça na direcção dele, sorriu-lhe, e fez-lhe sinal com a mão. Fiquei com o coração apertado. Aquele sorriso, aquele gesto, eram de uma mulher de vinte anos! A mão como que voara com uma ligeireza encantadora. Como se, por brincadeira, ela atirasse ao amante um balão de muitas cores. O sorriso e o gesto cheios de sedução, ao passo que o rosto e o corpo já nada de sedutor tinham. Era a sedução de um gesto afogado na não-sedução de um corpo. Mas a mulher, embora devesse saber que deixara de ser bela, esquecera-o nesse instante. Numa certa parte de nós mesmos, todos vivemos para além do tempo. Talvez só tomemos consciência da nossa idade em certos momentos excepcionais, permanecendo sem-idade a maior parte do tempo.

Este excerto de "A Imortalidade" de Milan Kundera fez-me pensar se a sua Agnès também poderia ser a protagonista deste excerto: 

Ontem pedi que o tempo parasse, mas apressaste-te a responder-me que não podemos parar o tempo, “porque o mundo ficava todo parado!”. Tinhas razão porque a tecnologia ainda não permite parar o tempo e muito menos as pessoas.
Mas, meu querido…deixa-me dizer-te que o mundo tem vários tempos, a medição do tempo é só uma invenção do nosso mundo civilizado. Esse tempo serve de referência no nosso dia-a-dia para aquilo que planeamos. Mas nós não planeámos nada disto, será que já conseguimos parar um tempo?
Ou melhor, como podemos viver o nosso tempo?

E é aqui que eu respondo: "O nosso tempo é o que fizermos dele!"

Nadir Afonso, disponível em http://www.nadirafonso.com/

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