Estes dois valores, igualdade e liberdade, são difícieis de conciliar e foram paulatinamente esquecidos. Quando a sua visibilidade era maior chegaram a ser considerados como irredutíveis, mas mais tarde um deles tomaria a dianteira do outro.
Não arrisco pegar numa balança e pesar os dois e não sei se um é mais importante que o outro, nem se um excluí o outro, mas confesso-me apaixonada pelos dois!
A liberdade tornou-se, no século XX, um valor central de qualquer democracia, já a igualdade reside, no início do Século XXI, apenas no imaginário de utópicos e idealistas. Um dos mais conhecidos liberais, Milton Friedman, pugnaria pelo primado da liberdade sobre a igualdade. (Como se esteve nas tintas para os efeitos da liberdade na comunidade humana aos que acreditaram nos seus ditames resta esperarem sentados!)
Mas é a relação da liberdade com a auto-determinação individual que mais me fascína, qual o seu efeito?
Terá sido esta preocupação que levou Kierkegaard a escrever "anxiety is the dizziness of freedom", que será o mesmo que dizer que a ansiedade é a vertigem da liberdade.
Kierkegaard, como bom filósofo do seu tempo, socorreu-se de uma metáfora, a do precipício, afirmando que se eu estiver à beira do precipicio posso sentir vertigens e terei o medo imediato de cair, mas terei uma sensação ainda mais profunda de tontura originada pela liberdade absoluta que tenho para decidir se vou cair ou não. Este filósofo avançou com um conceito de ansiedade como um impulso para a tomada de consciência (auto-consciência) sobre os nossos actos, que têm entre outras uma dimensão moral. É essa vertigem, que nos fará ponderar sobre as decisões que conduzem as nossas vidas e que nos tornará assim mais responsáveis pelo nosso destino.
A respondabilidade e consciência individual são importantes, mas não estamos habituados a estar sós no precipicio, será por isso que geramos uma ansiedade do tipo colectivo?
Sem comentários:
Enviar um comentário