Utopia
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
Afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
Nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu, a ti o deves
Lança o teu
Desafio
Homem que olhas nos olhos
Que não negas
O sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
O nada disto custa
Será que existe
Lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
Na minha rota?
José Afonso
A Condição Humana. A natureza, as artes, as mulheres e também...os homens.
terça-feira, 26 de abril de 2011
sexta-feira, 22 de abril de 2011
A Paixão
Esta quadra convida todos os católicos a uma aproximação com o divino. E eu sinto-me metade fora e metade dentro desta procura de aproximação, apesar de não me considerar ateia, vivo uma relação distante com a religião e ao mesmo tempo muito próxima com o divino.
Quando surgiram as grandes religiões a sua preocupação central foi fixarem-nos aos territórios, sendentarizando-nos. Em seguida o seu projecto para humanidade determinava que para sermos felizes para sempre a nossa alma devia separar-se do corpo, asim atingiría o divino. Para darem um sentido mais humano a este argumento criaram o pecado.
Para Saramago o pecado não existe e é um instrumento opressor criado pelas religiões, talvez concorde já que a existência de pecado subtraí-nos as nossas paixões, principalmente as da alma.
O Homem soube, no entanto, responder à opressão das religiões e inventou as paixões do corpo, para isso afastou-se do divino e centrou-se no corpo. A partir daí o conforto, a qualidade de vida, segurança, riqueza passam a ser a procura central do Homem já evangelizado.
A destruição da natureza é ilimitada, porque para muitos é um mal necessário, porque a sua divindade perdeu valor. Se sabemos que todos os povos não evangelizados tinham uma relação com a natureza enquanto divindade, porque nos fizeram esquecer isso? Porque é que isto não é matéria dos manuais escolares?
O facto é que tudo confluí para que assim seja, mas não podemos por isso deixar de reflectir sobre a natureza hoje mais do que nunca vivemos porque vivemos na Era do Homem.
Hoje é o Dia da Terra, por isso oremos! Esta encontrei aqui, nunca estive na Indía mas já tive a experiência, simplesmente divina, de caminhar na selva da Sumatra e...encontrei esta divindade!
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Sem limites
O sentido da arte é ilimitado ou é a criação artistíca que não tem limites?
Para Nadir Afonso o sentido da arte encontra-se na indissocibilidade entre a mobilização, por vezes inconsciente, da técnica, a partir do estudo matemático e da geometria, e a representação da vida humana e social. É nesta simbiose que o sentido da arte não pode ser, na sua perspectiva, uma figuração apenas do sentir do pintor.
"Ora, todo o conhecimento, (nomeadamente nas Artes), começa por uma observação sensorial e a sua ambição consiste em encontrar a lei normal (nomeadamente de expressão matemática) que o fundamente e justifique. A partir de tal objectivo, torna-se necessário afastar, essa oposição filosófica, intransigente a que assistimos nas Ciências da Natureza, entre o sujeito prático defensor da sensação e o sujeito teórico, defensor da razão." (Afonso)
Valorizando por um lado a arte e por outro a técnica e o estudo apurado, Nadir Afonso constrói um sentido para a arte enquanto estética da própria vida humana, nesta a razão prática e a razão teórica são indissociáveis.
Eu questiono-me se este poderá ser um bom ponto de partida para pensarmos o Serviço Social enquanto arte (tema em voga nos seminários de doutoramento), mas podemos encontrar no pensamento de Nadir Afonso uma afirmação que pode clarificar uma das limitações do próprio Serviço Social,
"Como vemos, para uns é a observação prática que cria problemas, erros e preconceitos, para outros é o pensamento teórico. Para uns são os sentidos que nos desorientam, para outros são as especulações de intelecto…
Ora o facto de privilegiarmos quer a observação prática quer o pensamento teórico não deve ser encarado como uma grandeza de espírito do sujeito, mas como um defeito e uma limitação." (Afonso)
Tornei-me uma entusiasta seguidora do trabalho deste pintor, recentemente, despois de visitar a exposição que apresentou no ano passado, no Museu do Chiado.
Para meu regozijo esta exposição, sob o formato de restrospectiva, abrangia todas as fases da sua longa trajectória.
Tendo neste percurso integrado o grupo de pioneiros dos estudos intitulados "Espacillimité", que imprimiram uma noção de movimento à pintura, destacando-se entre outras obras a seguinte obra, visionável a partir daqui. Esta exposição incluia no final uma sala toda dedicada à fase das cidades, confesso que gostava de ver uma exposição do pintor só dedicada a esta fase e que incluísse o maior número de obras produzidas sobre as cidades.
Recentemente visitei a exposição "Absoluto" no Museu da Presidência, o que mais me impressionou foi a reprodução de uma peça das "cidades" numa Tapeçaria de Portalegre, sublime!
Imperdível a retrospectiva até 19 de Junho de 2011, no Centro Cultural de Ílhavo.
Para quem não tem tempo resta o mais positivo da tecnologia para ver com atenção!
domingo, 17 de abril de 2011
O tempo
A senhora afastava-se em fato de banho ao longo da piscina e quando se encontrava a quatro ou cinco metros do professor de natação, virou a cabeça na direcção dele, sorriu-lhe, e fez-lhe sinal com a mão. Fiquei com o coração apertado. Aquele sorriso, aquele gesto, eram de uma mulher de vinte anos! A mão como que voara com uma ligeireza encantadora. Como se, por brincadeira, ela atirasse ao amante um balão de muitas cores. O sorriso e o gesto cheios de sedução, ao passo que o rosto e o corpo já nada de sedutor tinham. Era a sedução de um gesto afogado na não-sedução de um corpo. Mas a mulher, embora devesse saber que deixara de ser bela, esquecera-o nesse instante. Numa certa parte de nós mesmos, todos vivemos para além do tempo. Talvez só tomemos consciência da nossa idade em certos momentos excepcionais, permanecendo sem-idade a maior parte do tempo.
Este excerto de "A Imortalidade" de Milan Kundera fez-me pensar se a sua Agnès também poderia ser a protagonista deste excerto:
Ontem pedi que o tempo parasse, mas apressaste-te a responder-me que não podemos parar o tempo, “porque o mundo ficava todo parado!”. Tinhas razão porque a tecnologia ainda não permite parar o tempo e muito menos as pessoas.
Mas, meu querido…deixa-me dizer-te que o mundo tem vários tempos, a medição do tempo é só uma invenção do nosso mundo civilizado. Esse tempo serve de referência no nosso dia-a-dia para aquilo que planeamos. Mas nós não planeámos nada disto, será que já conseguimos parar um tempo?
Ou melhor, como podemos viver o nosso tempo?
Mas, meu querido…deixa-me dizer-te que o mundo tem vários tempos, a medição do tempo é só uma invenção do nosso mundo civilizado. Esse tempo serve de referência no nosso dia-a-dia para aquilo que planeamos. Mas nós não planeámos nada disto, será que já conseguimos parar um tempo?
Ou melhor, como podemos viver o nosso tempo?
E é aqui que eu respondo: "O nosso tempo é o que fizermos dele!"
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Subscrever:
Mensagens (Atom)